sexta-feira, fevereiro 22

2013 NÃO é um bom ano! O Fim deste blog.


Faço este ano 40 anos! Embora sempre tenha achado que isso não me iria chatear por aí além, e ainda que na verdade não esteja propriamente a stressar, confesso que à medida que a data se aproxima tenho pensado nisso mais e mais! O tempo passa e não volta mesmo para trás!

Faz este ano 22 anos, a páscoa também calhou a 31 de Março. O dia em que o meu pai morreu. Ali, à nossa frente sem que pudéssemos fazer mais nada além do que tentamos fazer.
Faz este ano 21 anos que a minha mãe morreu. Sozinha no hospital, um ano menos um dia depois do meu pai.
A morte dos meus pais é O marco na minha vida. A altura que marca a mudança. Na minha vida e em mim. Em mim principalmente, mas isso só o percebi muitos anos depois. Continuar a viver depois da morte dos pais é muitas vezes sobreviver. Não estou a falar em sobrevivência financeira, estou a falar em sobrevivência emocional. Suponho que cada um sobrevive como pode. A minha sobrevivência levou-me para a frente. Sempre. Mas sem pensar muito nisso para não ter de enfrentar problemas que não queria enfrentar e não ter de lidar com os vazios que a morte deles me deixou. A fugir. Tentando viver de forma ligeira, para não me sentir soterrar. Consegui manter o bom humor e o sarcasmo, menos mal.
Tinha 18 anos acabados de fazer quando morreu o meu pai, 19 quando morreu a minha mãe. Fiz a faculdade a eito, sem me dispersar, sem chumbar nenhum exame, com uma boa média. Não me lembro da maior parte do que aprendi!
A vida é fodida, mais para uns, menos para outros, mas é sempre fodida. Adaptamos o grau de sofrimento ao que sofremos e acabamos sempre por arranjar desculpas para sofrer. Eu percebo que há gente que passou por situações muito piores que a minha, e muita gente que nunca passou por nada, nem sabe a sorte que tem e ainda assim se farta de sofrer! Mas hoje achei que me podia queixar, para acabar em beleza e porque também mereço.
Passaram 22 anos sobre a morte dos meus pais e só agora começo a perceber algumas das cicatrizes. Só agora me sinto capaz de me expôr e escrever. Só há pouco tempo tenho consciência de como a minha personalidade se alterou com isso, e de como isso me prejudicou. Mas essa é a minha realidade e não a consigo mudar.
Uma das grandes heranças da morte dos meus pais (da morte deles, não deles, essas são outras heranças, bem diferentes!) é a minha personalidade gaulesa. A sensação permanente de que o céu está sempre preparado para me cair em cima da cabeça e a certeza de que de vez em quando cai mesmo. Sem avisar!
Outra é a sensação de que estou sempre um passo atrás da sorte. Chego sempre às situações pelas quais luto e que desejo ou que simplesmente me aparecem no momento em que as regras do jogo se alteram e já não é bem assim!

Os meus pais deixaram-me quando a minha idade adulta estava a começar, não tive tempo de os conhecer como adultos, só como pais, percebem? Faltam-me as histórias todas que eles nunca me chegaram a contar. Faltam-me! Dói-me o facto de o meu filho não conhecer os avós e não os aproveitar. Magoa-me a falta que me fazem e fizeram os pilares. Saber que fosse porque fosse havia alguém que estava sempre lá.
Uma parte de mim teve de crescer à bruta. Tratar de mim e dos outros, cozinhar por obrigação, ter responsabilidades em relação a terceiros, não veio com os filhos, veio aos tropelões, sem preparação com a morte da minha mãe. O saber que às vezes só podemos mesmo contar connosco, e que todas as decisões que tomamos têm de ser pensadas sob esse ponto de vista, porque caso algo corra mal, caímos e lá em baixo não há rede, só o chão duro.
Fiquei mais fria, menos sensível, sem paciência para aturar paneleirices, e especialmente para quem inventa problemas. Eles acabam por aparecer, não se preocupem em inventá-los!!
Perdi ambição e força para lutar. Porque é que as coisas não podem ser fáceis de vez em quando?!?!

De vez em quando tinha vontade de escrever este texto. Este ou outro que falasse do que falo. Este é o texto que me saiu para fechar um BLOG que fez todo o sentido durante o seu tempo e que agora já não fazia sentido nenhum.

Não falo aqui de todas as coisas boas, as que me aguentaram e ajudaram a andar para a frente. Do Ca-zé que já estava comigo e que ainda continua, da sua família que me acolheu desde sempre e que é também a minha, dos amigos, da família. Muitas vezes foram eles que me salvaram, às vezes sem sequer se aperceber.
Mas a parte da minha alma que se partiu, não se consegue colar. Tenho um buraco, escuro que nunca se irá fechar.
Esta sou eu!