quarta-feira, abril 9

Hoje não, dói-me a cabeça

Hoje acordei às 7.00 da manhã com uma buzina. Depois de uma noite muito mal dormida, com o Pedro a choramingar de hora a hora (coisa nada normal nos dias que correm, felizmente!) aquela buzinadela não me soou nada bem. Bem pior me soaram os gritos que comecei a ouvir de seguida. Uma mulher gritava “sai daqui”, uma criança gritava pela mãe, um homem gritava coisas que eu não percebia. Levantei-me, abri a janela. Os gritos continuavam, aflitivos, eu não via nada. Vesti o casaco e saí. Aproximei-me do muro. No parque de estacionamento do supermercado à frente da minha casa, deserto aquela hora, um homem tentava entrar num fiat punto com uma mulher e uma criança lá dentro. A alguma distância estava uma carrinha de caixa aberta parada com a porta aberta. O homem gritava muito. A única coisa perceptível eram as palavras “dá-me a rapariga”, repetidas incessantemente. A mulher gritava lá dentro. O homem tinha um braço dentro do carro e tentava, pelo que me apercebi, destrancar o carro. Socava o carro. A mulher arrancava com o carro em pequenos solavancos. Buzinava, mas nenhuns dos carros que passava abrandava sequer. Os gritos continuavam. Eu estava pregada ao chão. Não equacionava ir lá porque estava sozinha em casa com o Pedro e não o ia deixar. O telefone estava em casa. Os gritos continuavam. Eu só pensava porque raio não arrancava a mulher. Fiz a única coisa que me lembrei. Assobiei. O homem afastou-se e olhou em volta. Voltou à carga logo a sair. O carro deu mais um solavanco. Assobiei outra vez. Mais uma olhadela em volta, mais uma tentativa de abrir o carro. Desistiu logo a seguir. Sem deixar de gritar, virou costas e dirigiu-se à carrinha. A mulher arrancou e fugiu dali para fora. O homem saiu para o mesmo lado pouco depois. Eu voltei para dentro.
Hoje dói-me a cabeça. Muito.